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O jornalismo perdeu um W

por Alda Telles, em 15.01.13

Era canónico, qualquer peça jornalística tinha 5 W: Who, What, When, Where e Why.

 

Hoje, na conferência “Pensar o futuro – um Estado para a sociedade”, aparentemente uma organização para-governamental, caiu um W, o de Who.

De acordo com a organizadora, Sofia Galvão, a cobertura jornalística do evento seria restrita aos discursos de abertura e de encerramento. Todo o resto era suposto decorrer em "off-the record".  “A permanência de jornalistas na sala pode manter-se, mas não haverá citações de nada que aqui seja dito sem expressa autorização dos citados”, disse Sofia Galvão.


Esta regra não é mais do que a internacionalmente usada "Chatham House Rule", com esta simples definição: 

When a meeting, or part thereof, is held under the Chatham House Rule, participants are free to use the information received, but neither the identity nor the affiliation of the speaker(s), nor that of any other participant, may be revealed.

Tem na sua origem num think-tank britânico  de assuntos internacionais e visa dar liberdade de discussão aos seus participantes, sem os ligar às suas funções profissionais e políticas, tornando asim o debate mais sincero e descomprometido.

 

A própria Chatham House tem no seu site um espaço dedicado aos jornalistas e às regras da cobertura mediática. Que depende até, em última instância, da vontade dos participantes em serem citados, e permite entrevistas "à margem" dos eventos, que é aliás a prática comum em qualquer conferência neste país.

 

Parece-me portanto uma prática aceitável.

 

Então porque é que gerou esta polémica junto dos meios de comunicação, que na generalidade se retiraram da conferência e que culminou, ao fim da tarde, com um comunicado violento do Sindicato de Jornalistas

 

Com os dados de que tenho posse, concluo:

- Os jornalistas portugueses nunca ouviram falar da Chatham House Rule

- Alguém na organização (talvez a própria Sofia Galvão) a conhecia mas só se lembrou em cima do acontecimento

- A Conferência foi mal anunciada como uma "conversa aberta da sociedade civil"

 

Foi mais um mau momento de péssima gestão da comunicação, uma inadaptação e impreparação face aos acontecimentos, uma réplica saloia e atabalhoada de uma regra civilizada que, convenientemente explicada, poderia ter sido perfeitamente aceite e bem aproveitada tanto pela organização como pela comunicação social.

 

Mais uma oportunidade perdida de se poder discutir ideias em Portugal. 

 

 

 


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A crise da Chanel

por Alda Telles, em 10.01.13

Parece que só hoje o ano começou. Já a meio de janeiro e ainda não tinha havido uma crise nas redes sociais. Qual Ricardo Costa que saliva por um congresso partidário, a minha adrenalina pavloviana finalmente disparou, no dia cheio de graça de 10 de janeiro.

 

A parte difícil é saber a quem atribuir a crise: à Samsung, à Chanel ou à tribo dos bloggers de moda?

 

Não tendo, estupidamente, resposta para a pergunta que coloquei, deixo aqui apenas algumas notas soltas, que gostaria pomposamente que me deixassem chamar "Food for Thought":

 

1. A Samsung teve uma excelente ideia, perfeitamente ajustada ao território comunicacional dos seus produtos: posicionar a marca e fazer product placement através de testemunhos de líderes de opinião, no caso bloggers, do universo da moda e do lifestyle, uma indústria tão respeitável como qualquer outra.

2. A ideia chocou com a realidade em duas dimensões: na forma do discurso desses líderes de opinião e no conteúdo que deles conseguiu extrair, em declarado contra-ciclo com o Zeitgeist miserável em que nos encontramos.

3. Por outro lado, a marca promotora da ideia foi abafada por uma segunda marca que, em condições normais, teria beneficiado duma comunicação "piggy-back". Ou seja, a Chanel, respeitadíssima e discreta marca, teria beneficiado, em condições normais (ou controladas) da associação com a acção da Samsung.

4. Na prática, o buzz está centrado nas palavras-chave "Pepa" e "Chanel". O que não deve agradar à Chanel (que já teve, bem recentemente, a sua crise com o anúncio do Brad Pitt). (Também não deveria agradar à marca Pepa, mas a sua reputação não foi construída ao longo de cem anos como a da senhora Coco).

5. Numa primeira leitura, quem me parecem ser os principais lesados neste caso são os "bloggers de moda". Num instante, a notoriedade que muitos tinham construído junto das marcas ruiu. Nenhum responsável de marketing arriscará tão cedo uma acção com este segmento dos novos media.

6. Moral da história: senhor(a) director(a) de marketing: pense duas, ou três, ou mesmo quatro vezes antes de dizer à sua agência "Eu quero um viral". A mente humana é tramada. Em crise, a mente humana é ainda mais tramada.

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