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A minha vida não é isto

por Alda Telles, em 14.12.10

 


 



"Los diplomáticos agradecen a Sócrates haber "permitido a EE UU usar la base de Lajes en las Azores para repatriar a detenidos de Guantánamo", "una decisión difícil que nunca se hizo pública", señala un despacho de septiembre de 2007.


(El País)



 


Mas também é. Estimulada pela incansável e sempre atenta Maria João Pires, passei a noite de ontem no site do El País à procura do telegrama que referisse a notícia amplamente divulgada na imprensa portuguesa "Diplomatas norte-americanos em Portugal referem que José Sócrates permitiu aos Estados Unidos utilizar a base aérea das Lajes, Açores, para repatriar presos de Guantánamo" e que resultou, em todos os meios nacionais, de uma simples tradução deste artigo espanhol.


 


Quando tive a certeza que tal telegrama não existia on-line, pedi a um dos jornalistas do El País que me indicasse como obtê-lo. A resposta, apesar de ser uma da manhã em Madrid, foi pronta: "Lamentamos, mas não o podemos disponibilizar. Apenas podemos dizer que se trata do despacho 121*** de */*/2007."


A minha insistência, com o desafio "Então onde fica a transparência?" já não obteve resposta.


Não consegui o tellesleak do wikileak.


 


Este episódio levanta-me as seguintes questões:


 


1. Se todo o argumentário dos "Cinco magníficos", onde o El País se inclui, é o direito à verdade e à transparência, expondo os telegramas tal como a pena ligeira das embaixadas os deu ao mundo, porque escrevem afirmações num artigo sem darem a conhecer o despacho que as sustentam? Deparamo-nos aqui com um paradoxal gatekeeping.


 


2. Admitindo que o despacho continha matéria de segurança não divulgável (embora tal também constitua um paradoxo na lógica do Wikileaks e dos seus media partners), não deveria o jornal tê-lo explicado e transcrito pelo menos essa porção do despacho?


 


3. Se não podiam ou queriam citar nem a fonte nem revelar a parte do documento que origina a notícia, não a deveriam então ter omitido?


 


4. Qual foi o jornal nacional, ou comentador, ou analista, que levantou esta questão? Se alguém o fez, aqui fica desde já a devida vénia.


 


ADENDA:


Alguns leitores dizem que basta procurar na "fonte original", onde estariam todos os telegramas da Embaixada americana em Lisboa (façam o favor, é aqui). O despacho que o jornalista do El País diz que tem, e que me identificou (é de 7 de setembro de 2007), não está disponível. Já verifiquei. É mesmo assim, não vale a pena procurar. Essa pinguinha ainda não é do povo.

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10 comentários

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Inês Meneses a 14.12.2010

imagino que o documento possa ser este
http://213.251.145.96/cable/2006/10/06LISBON2365.html (http://213.251.145.96/cable/2006/10/06LISBON2365.html), ou qualquer outro que não encontro agora, que não posso dedicar muito mais tempo a isto. Dê por onde der, parece de ressaltar que a resposta é "Sim, tudo o que os jornalistas portugueses fizeram foi copiar o que leram no El Pais".
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Inês Meneses a 14.12.2010

pode-se procurar a partir daqui http://www.leakysearch.com (http://www.leakysearch.com)
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atelles a 14.12.2010

Inês,
O suposto despacho onde se encontra a informação que o El País relata é de setembro de 2007, e creio não estar disponível no site da Wikileaks (não esqueçamos que a organização disponibilizou telegramas em exclusivo aos tais 5 meios de referência). Acho que não vale a pena procurar. Temos mesmo de esperar que os gatekeepers o decidam publicar.
A minha interpelação aos meios portugueses não é sobre o facto de eles terem traduzido o artigo - em rigor, os media nacionais não têm mais acesso aos despachos que o comum dos mortais - mas por não terem feito o reparo, pelo menos para os seus leitores, que o tema das autorizações dos voos de Guantanamo não estava suportado por nenhum dos telegramas disponibilizados pelo El país.
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Inês Meneses a 14.12.2010

Bom, o site para procurar directamente nos "cabos" está aí acima, sem gatekeepers; com a referência enviada pelo El País será mais simples pelo menos verificar se eles se enganaram ou não. Procurando em todos vai levar mais tempo, mas lá chegaremos.
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João Caetano a 14.12.2010

Todos os "cables" com origem na Embaixada dos EUA em Lisboa e tornados públicos pela Wikileaks estão aqui: http://213.251.145.96/origin/58_0.html
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atelles a 14.12.2010

João, a Inês também já se tinha dado ao trabalho de ir à "fonte original". O despacho a que o El País diz que teve acesso NÃO está lá. Acabei de verificar.
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João Miguel Neves a 15.12.2010

Confirmo. Já tinha apanhado a mesma situação com a reacção do Cavaco Silva a não ser recebido na Sala Oval em Washington, DC. O telegrama esta identificado como sendo de 2008-08-29, mas não existe no site nenhum telegrama com essa data.

Passa-se alguma coisa, desconheço se o problema estará do lado dos jornais ou da wikileaks. O plano exposto era que os telegramas estivessem disponíveis sempre que saíam as notícias, mas neste momento há atrasos/falhas.

Parece que teremos de esperar para confirmar as últimas notícias :(.
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Joaquim Duarte a 16.12.2010

Publicaram-no só hoje: http://www.elpais.com/articulo/internacional/Cable/dice/Socrates/autorizo/vuelos/repatriacion/prisioneros/Guantanamo/elpepuint/20101215elpepuint_29/Tes
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Miguel Madeira a 16.12.2010

http://213.251.145.96/cable/2006/10/06LISBON2366.html

Agora já é.
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Luis Melo a 20.12.2010

Depois de ter publicado documentos que embaraçaram Estados, Governos e Políticos… Depois de ter publicado documentos que colocam em causa a segurança de várias nações… O wikileaks lançou agora um documento que pode por em causa muito mais, e que pode mesmo ter consequências gravíssimas… o documento lançado identifica o Super-homem como sendo o jornalista Clark Kent, e o Batman com sendo o empresário Bruce Wayne.

Correm também rumores, em Portugal, que a organização de Julian Assange terá documentos em sua posse que revelam a verdadeira identidade da Leopoldina, da Popota e de outras figuras proeminentes da sociedade portuguesa. Desconhece-se para já a dimensão do impacto que estas revelações podem ter no nosso país, já assolado pela crise financeira, económica e social.

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