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Decorreu hoje o Forum Internacional da APCE e da Global Alliance. Um dia em cheio de reflexão e debate sobre o sector e a profissão de relações públicas. Muito food for thought, quase uma indigestão.
Mas tenho de confessar que, against all odds, a palestra mais surpreendente e uma das mais brilhantes foi a de Nuno Morais Sarmento, apresentado ali como "lawyer and former minister". Surpreendente, antes de mais, por ter sido capaz de evitar referências oportunísticas ao momento político-campal que se vive em Portugal. Surpreendente também pela sua análise do contexto social e político na era das redes sociais.
Assumindo-se como um "comunicador não preparado", o advogado-ex-ministro deixou várias ideias, transversais aos países e às ideologias, que deverão estar presentes na estratégia política e na estratégia das organizações em geral. Partilho algumas das ideias que consegui registar:
- As gerações mais velhas olham para as novas ferramentas como um modelo de comunicação. As gerações mais novas vêem estas ferramentas como uma plataforma de relacionamento, intervenção e organização.
- Comunicação global e instantânea igual a capacidade de intervenção global e instantânea
- Os movimentos gerados nas redes sociais serão disruptivos numa primeira fase e identitários numa segunda fase (referindo-se aos "acampamentos" espanhóis, MS explicou que este são uma manifestação de capacidade colectiva, mas que ainda não sabe onde aplicar essa capacidade)
- Os movimentos na internet ligam pessoas, pontos individuais, ainda que englobados num movimento.
- Por mero acaso tecnológico, destruímos barreiras geográficas, de crenças, de raças. Os temas deixaram de ser territoriais e passaram a ser globais.
Citou depois um dos seus autores preferidos (meu também), o escritor espanhol Perez-Reverte, que invoca duas razões essenciais para o desencontro das pessoas com a sociedade:
- com a nossa incapacidade de viver como animal racional (já somos só "racionais"), perdemos o relacionamento com os sentidos
- de todos os seres gregários, o ser humano é o único que, mesmo em comunidade, precisa de manter a sua identidade e a sua individualidade.
E os media sociais, blogs e redes sociais, são a plataforma ideal para a manutenção dessa identidade numa sociedade ainda gregária. Morais Sarmento tira destas reflexões ensinamentos para a estratégia política. "Qual a razão para um jovem hoje optar por um modelo partidário piramidal (e cheio de filtros) quando, com um clique [no facebook] pode partilhar a sua opinião de forma directa e integral?"
Se este político reflectiu sobre as novas expectativas da sociedade e a sua capacidade crescente de intervir e interagir em redes contextuais numa perspectiva essencialmente partidária, é certo que estas reflexões se aplicam à análise do contexto das organizações, uma das competências essenciais de um profissional de relações públicas.
Agora que está na moda universidades e conferências convidarem políticos para "aulas" de experiência política, Morais Sarmento parece ser uma boa escolha. Melhor que para debates televisivos, digo eu, que o estou a ver agora na Sic Notícias.
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