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No terramoto que tem assolado os "países periféricos" (com o conceito de periferia a revelar-se cada vez mais ridículo), estes têm procurado passar a mensagem de que "não somos a Grécia", isto é, "nós não mentimos sobre o nosso défice". Se o primeiro grande pecado dos gregos foi a manipulação dos números da dívida para poderem entrar no "clube do euro" (com a ajuda dos maquilhadores de Wall Street, diga-se en passant), a percepção mais recente de que "os gregos são mentirosos" resultou das denúncias feitas pelo governo socialista quando chegou ao poder em 2009.
O clássico "encontrámos um buraco que não estávamos à espera" tem sido, em abono da verdade, um ritual de qualquer novo governo. Acontece que este expediente (que era para ser de política interna) saiu muito caro aos gregos, porque teve o azar, para os socialistas, de coincidir com a crise financeira e o ataque ao euro. O que tem dado azo às maiores humilhações da Grécia, à percepção generalizada de um país corrupto e mentiroso e permite as atitudes sobranceiras da Finlândia e da Alemanha.
As revelações, desde Junho, por parte do novo governo português, sobre "desvios colossais" têm posto em perigo a imagem que Portugal conseguiu manter, até à data, de um país credível e capaz de honrar os seus compromissos (mesmo que tal não tenha tido a devida leitura pelos mercados, conforme atestou de forma perplexa, sábado passado no Expresso, o prof. João Duque).
Ora, no dia em que Portugal sobe para o segundo lugar no "clube da bancarrota", o ministro dos Assuntos Parlamentares chega ao parlamento com um carrinho de mão cheio de "facturas escondidas" numa sala obscura do ministério, denunciando "uma dívida escondida" de 6 milhões.
Não há nenhum especialista no governo que explique a palavra "percepções"? Há, e muito bons. Ouçam-nos, por favor. É que foi assim que começou o fim da Grécia.
Alguns analistas mais pessimistas entendem que o bailout de Portugal, anunciado ontem, foi o derrube do último escudo que defendia a Espanha e outras economias mais vulneráveis da zona euro.
Num cenário que ninguém quer imaginar, mas que não é impossível, o fim do euro ditaria o regresso do escudo (não imagino outro nome para a moeda da República).
Curiosamente, o escudo celebra este ano o seu primeiro centenário. O primeiro "1 Escudo" em 1911 era uma grande moeda de prata. Se a ele regressarmos, será uma moeda de latão, como o rating da república.
Poderá haver uma conjugação de orixás nestas visitas de Lula e Dilma a Portugal? Ambos afirmam possível e desejável a ajuda do Brasil para resgatar o país da situação de risco iminente de default para que foi arrastado.
Um empréstimo-chapéu que cubra as responsabilidades da dívida permitiria a Portugal fazer o seu próprio bailout, e negociar apenas com outro país soberano.
Dito isto, todas as medidas enunciadas no PEC ou outras que garantam os níveis de défice com que Portugal se comprometeu seriam absolutamente imprescindíveis para "acalmar" de vez os mercados.
Assim se adoptasse a letra do famoso samba para "Eu te amo meu Portugal". Mas não é esse, para já, o tema que se leva para o festival da Eurovisão. Infelizmente.
O mais internacionalmente famoso banqueiro português, Horta-Osório (em Inglaterra ganha-se um hífen) ainda não entrou oficialmente em funções no Lloyds mas já recebeu um presente de boas-vindas. Uma simpática quantia estimada em 5 milhões de libras ao jeito de "Golden Hello", e que soma à remuneração anual máxima de 8,3 milhões de libras, entre outras compensações.
Supõe-se que estes números estão de acordo com a lei aprovada no verão passado pelo Parlamento Europeu.
Um Olá Inglês vale, e bem, um Adeus Português.
O tema está quente nos Estados Unidos, onde cerca de 300 economistas subscreveram uma petição à American Economic Association para a adopção de um Código de Ética que, entre outras coisas, obrigaria os seus membros a divulgarem potenciais conflitos de interesse. Este movimento tem muito de "Inside Job Effect" e surgiu com o debate o ano passado entre economistas sobre a revisão da regulamentação de Wall Street, em que estes se recusaram a revelar voluntariamente os seus interesses como administradores de empresas, advisers ou consultores enquanto faziam comentários nos media.
Os casos mais polémicos são aqueles que envolvem académicos que, simultaneamente, defendem a desregulamentação e trabalham para empresas de serviços financeiros. Nos Estados Unidos, os casos são muitos, como aquele professor de Stanford, Darrell Duffie, que escreveu um livro defendendo a desregulamentação e se esqueceu de mencionar que tem assento no conselho de administração da Moody's.
A verdade é que sempre houve resistência a qualquer código de conduta para os cientistas da economia. Sendo uma ciência social, conseguiu ir ganhando o estatuto da "ciência social mais exacta", e fazendo de cada afirmação não uma opinião, mas uma verdade absoluta. Com o domínio do neoliberalismo, vingam na opinião económica os conceitos do interesse individual e dos mercados livres e racionais. Vinga um sistema e uma organização mundial que estão a deixar as economias e as sociedades à mercê de um carrossel de "especulação sincronizada", na expressão do jornalista e analista Jorge Nascimento Rodrigues.
Outra questão, aparentemente menos discutida nos Estados Unidos, mas que muito se vê por cá, é a análise supostamente "científica" e isenta de economistas académicos que são conselheiros, em regra informais, de partidos ou dirigentes políticos. Pela parte que me toca, gosto de ouvir opinião com declaração de interesses. Quando eles não são do conhecimento público, evidentemente.
Interessante análise do New York Times sobre o papel e o poder dos social media nos métodos preditivos.
Mais de 500 milhões de pessoas estão no facebook e 175 milhões no twitter, e as ciências sociais começam a olhar para o valor agregado das redes sociais. Com algoritmos apropriados, podem extrair-se dados sociais e culturais valiosos. Desde prever os êxitos de bilheteira do cinema até ao índice industrial Dow Jones.
O Twitter é, de todas as redes, a aparentemente mais poderosa. Os feeds diários estão inclusive a desafiar os métodos clássicos das sondagens. Com milhões de novos aderentes todos os dias às redes sociais, as universidades começam a ter de rever os seus conteúdos em métodos quantitivos, a investigação tem de desenvolver novos algoritmos, e as empresas de sondagens vão necessitar de novas competências.
(Ilustração do New York Times).
Na nossa eterna batalha pelas exportações, vemos sucessivos governos reunirem com as "grandes exportadoras" de "bens transaccionáveis". Entretanto, o mundo, incluindo o nosso, vai mudando, e os serviços já representam quase 30 por cento das nossas exportações.
Entre outros, serviços de comunicação. A já famosa Excentric parece ter aberto caminho nos Estados Unidos, graças à versão internacional do "Natal Digital", reportada na CNN e no Huffington Post, segundo se conta aqui.
É pelo pequeno grande mundo da web, sem apoios do estado, que cada vez mais empresas vão fazendo o seu caminho da internacionalização.(Lembro-me de outro caso semelhante, o da Cardmobili, uma start-up tecnológica, que iniciou contactos no mercado norte-americano através de um filme no youtube. Penso que li na Exame).
Como sei que já viu a versão portuguesa, aqui fica a abençoada versão internacional da "Digital Story of the Nativity", que já ultrapassou os 3 milhões de visualizações no YouTube:
A propósito deste oportuno post de Martins Lampreia, que nos explica a recente "crise do açúcar", a memória deu um salto até ao Concurso de Beleza de Keynes.*
O teorema de Thomas é de 1928, o conceito de Keynes é de 1936, mas continuam a explicar o estranho andamento do mundo porque, na sua essência, a psicologia e o comportamento humano são estáveis há milhares de anos.
Por mais que os modelos teóricos procurem fazer da economia uma ciência exacta, as crenças, percepções e atitudes irracionais dos agentes económicos estão sempre a pregar partidas ao que o comum dos mortais chamaria de bom senso e ao que os economistas chamam de mercado eficiente. Não admira pois que a maioria se questione sobre fenómenos aparentemente incompreensíveis como rupturas de mercado, ataques a moedas ou colapsos da bolsa.
Por isso a economia é tão frustrante e as Marketing Communications tão apaixonantes.
*Para além do link para a Wikipédia, um digest para os preguiçosos: Keynes imagina um concurso de beleza lançado por um jornal, que seleccionou algumas mulheres bonitas. Os leitores que votarem concorrem a um prémio. Mas apenas os que votarem na jovem vencedora ganham o prémio. Para ganhar o prémio, os leitores não vão votar com sinceridade na mulher que acham mais bonita, mas vão votar naquela em que provavelmente os outros também vão votar (seguindo os cânones de beleza ou a celebridade da altura). Desnecessário será dizer que a votação será enviezada. Keynes faz um paralelo deste comportamento com o mercado bolsista. Os investidores são supostamente racionais, e portanto deveriam investir em títulos de empresas com bons resultados. Na realidade, compram aquelas que acham que os outros também vão comprar. É assim que Keynes desmonta a teoria do mercado eficiente.
Pequenos passos para uma maçã, grandes passos para o marketing dos produtos nacionais.
Bravo de Esmolfe, Malápio Fino, Malápio da Serra e PêroPipo são palavras magníficas, remetem-nos para um imaginário rural-literário, são um património a conservar. São também as mais deliciosas variedades de maçã do mundo.
Mas, admitamos, Bravo! é mais facilmente reconhecível e pronunciável pelos consumidores, sobretudo os consumidores estrangeiros.
Bravo! é uma MARCA, distingue estas maçãs da concorrência e facilita a identificação pelo consumidor. Parabéns à Adega Cooperativa de Mangualde. É disto que Portugal precisa.
"Em declarações à Lusa, o economista João Duque advertiu ainda para os gastos públicos, que justificam também a existência dos números crescentes da economia paralela. "As pessoas não fazem a menor ideia do dinheiro mal gasto. Não se apercebem da dimensão financeira do aumento de uma frota, por exemplo, mas reparam quando um governante circula com um carro com uma matrícula recente. E, como é óbvio, tudo isto tem uma componente psicológica, que leva as pessoas a pensar que economia paralela é justificável", disse.
A economia procurou, durante muitos anos, o upgrade da sua condição de ciência social para uma ciência quase-exacta. E conseguiu, nos últimos 30 anos, passar a imagem de ser, pelo menos, a ciência social mais exacta.
Infelizmente, as frequentes incapacidades reveladas dos modelos teóricos, não só na previsão como na explicação de fenómenos (com um redescobrimento recente de Karl Marx), tem-na conduzido, pouco a pouco, insidiosamente, para o reduto das ciências ocultas. Para combater esta injusta deterioração da sua reputação, os economistas alargam agora o seu campo de análise à psicologia. E as previsões económicas têm vindo a melhorar bastante.
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